Voltei da Itália recentemente e posso garantir que um dos maiores prazeres gastronômicos daquela terra é o cappuccino. Confesso que, por muito tempo, eu acreditava que essa bebida levava chocolate e/ou açúcar, talvez por ter tomado diversas vezes dessa forma aqui em terras brasileiras. Mas a bebida, originalmente, é feita de leite e café. Só de pensar nas xícaras que tomei lá, me dá água na boca - e me surpreendi com o fato de quase sempre ter conseguido trocar o leite de vaca por leite de amêndoas. Nhami!
Mas calma, você não está na página errada e esse não é um texto sobre cafés ou comida. Embora uma boa xícara de café com leite seja deliciosa - na minha opinião - viver a síndrome do café com leite não tem nada de gostoso.
Quando eu era pequena, sempre fui café com leite nas brincadeiras com as minhas irmãs. Elas eram 5 e 7 anos mais velhas do que eu, e me considerar café com leite era bastante justo, já que eu estava em desvantagens físicas e cognitivas, por ser bem mais nova. Quando ingressei na vida adulta, eu queria ser tudo, menos café com leite. Me lembro que isso deixava a brincadeira sem graça e que eu nunca podia, de fato, mostrar do que era capaz. Eu não queria mais viver com essa mamata. E aqui está o grande insight do papo de hoje.
Ser café com leite é querer que a vida pegue leve por acreditar que você está em desvantagem. E essa desvantagem só existe quando você pensa que não está à altura dos seus desafios.
Pode até ser que tenha algumas desvantagens, mas será que você se beneficia de se enxergar e se colocar dessa forma, para si e para os outros? Quando éramos pequenos, o café com leite “não valia” na brincadeira. É isso mesmo que queremos? Não valer também na vida adulta?
Desacreditar de nosso poder interior é o caminho mais curto para minar a nossa autoconfiança.
Quando decidi virar autônoma, há 8 anos, eu me levei MUITO a sério. De leite não tinha nada, era café purinho. Desde o dia 1 eu criei contratos, precifiquei o meu trabalho e estudei até ter certeza que me dedicava mais do que a média. E vejo que essa mentalidade se desdobra em todas as áreas da minha vida, porque é como eu aprendi a me enxergar e colocar.
Esses dias, em um treino de musculação, fui desafiada pela minha personal a aumentar a carga para 100kg de cada lado no leg press - se você não conhece essa máquina, sorte a sua, continue assim. Quando consegui fazer algumas repetições, antes do meu coração sair pela boca, eu senti um baita orgulho de mim mesma. E na hora, pensei:
Eu só descubro o meu máximo quando vou até ele.
Essa forma de encarar a si e os desafios que a vida nos traz é muito potente. Ao invés de pensar “eu não consigo”, adotamos o “deixa eu ver se consigo”. Se dar o benefício da dúvida, tentar *pra valer* e, principalmente, recrutar todos os seus recursos para fazer o que precisa ser feito, ah!, isso alimenta a nossa tão preciosa autoconfiança.
Entrar em contato com o nosso potencial é uma das formas mais potentes de amor próprio.
E é por isso que eu te convido a refletir. Em quais contextos você se considera café com leite? Quando foi que a vida te apresentou algum desafio e você queria pedir pra que ela pegasse mais leve com você? Por que você prefere acreditar que está em desvantagem do que usar os recursos e ver do que é capaz? Acredite em mim: você quer muito descobrir que é mais forte / capaz / potente do que imaginava.
Então se você é o/a caçulinha da família como eu, se pergunte se você ainda está tentando ser o participante que ninguém queria correr atrás no pega pega. E se você não é, mas ainda sim está nesse papel, lembre-se o quanto era chato brincar assim. Você quer estar na arena. Quer dar o seu melhor. E quer descobrir até onde pode chegar. Mas isso só vai acontecer quando você se levar a sério. Deixe o leite só pro cappuccino, combinado?
Boa semana pra nós :)
Charis