Só está dando conta de tudo quem quer pouco da vida.
Prometo que esse texto não será uma apologia à sobrecarga. Confia.
Dar conta de tudo é impossível. Mas por que será que ainda insistimos? Eu prometo que esse papo não será uma apologia à sobrecarga, pois tenho pleno entendimento de que essa é uma ameaça real à nossa saúde mental. Ainda sim, insisto em acreditar que não estamos dando conta de tudo - às vezes - pelos motivos certos.
Começo o texto te fazendo uma confissão: eu estou sobrecarregada. Logo ela, tão dona da sua agenda, tão cheia de ferramentas de gestão de tempo. Sim, estou. Ser mãe presente de duas crianças, ter um trabalho autônomo consolidado e próspero, manter minha saúde em dia, e tantos outros projetos e sonhos… têm me demandado demais. E isso me fez refletir.
Existe uma demanda excessiva proveniente de ser uma pessoa só e precisar viver e produzir como se fosse mais de uma. Essa forma de viver é pesada, sufocante e muitas vezes nos impede - inclusive - de viver tudo o que gostaríamos. Essa é a realidade de milhares de pessoas, especialmente mulheres que precisam conciliar carreira e maternidade, um contexto que espero que a sociedade se responsabilize o quanto antes.
MAS (!) existe uma demanda excessiva que vem de outro lugar - um lugar muito melhor. E é sobre ela que vamos falar hoje porque, sempre que você estiver vivendo dessa maneira, eu não quero que você minimize os seus desejos para viver a sensação de que está dando conta de tudo.
Eu não vivo sobrecarregada. Eu estou sobrecarregada. E embora essa fase esteja intensa e durando mais do que eu gostaria, sei que ela vai passar. Porém, quando faço uma reflexão honesta sobre o meu ritmo de vida e a forma como encaro a mim e todos os meus projetos, eu posso te afirmar: eu nunca dei conta de tudo. E eu não vou me envergonhar disso.
Mas por que nós não vamos dar conta de tudo?
Primeiro porque sabemos que é humanamente impossível cuidar de todas as áreas da nossa vida com excelência. A maturidade nos ensina que, muitas vezes, um 6 satisfatório é tudo o que poderemos entregar em detrimento de um ou dois 10 que estamos a todo vapor fazendo acontecer.
Em segundo lugar - e aqui vem o ahá-moment do nosso papo reto dessa segunda - porque quase todos nós queremos muito de nós mesmos. Mesmo em todos os meus momentos fora da sobrecarga eu sempre quis mais do que eu era capaz de fazer acontecer. Eu quero demais de mim e da vida. AINDA BEM!
Nós não damos conta de tudo porque, sempre que um espaço se abre, desejamos preenchê-lo com mais conquistas e crescimento. Essa é a nossa sede por autorrealização.
Não sei se estou enviesada pelo perfil de pessoas que atendo no processo de coaching: sempre recebo nas minhas sessões quem resolveu não viver na zona de conforto. Meu processo é pra quem está com a vida OK, mas não se contenta. Com aqueles que já alcançaram muito, mas ainda querem mais. Para todos que sabem que, com alguns pequenos ou grandes ajustes, podem chegar na tão sonhada realização pessoal e profissional.
Então isso me faz acreditar que a maioria de nós não dá conta de tudo porque sonha alto demais, espera muito de si e encaixa novos projetos sempre que a vida abre uma brecha. Eu costumo dizer que são pessoas que têm libido pela vida - e isso é maravilhoso.
Eu tenho uma lista sem-fim de cursos que quero fazer, livros que quero ler e experiências que quer viver. Tenho plena consciência de que, nessa uma vida que tenho, é improvável que eu faça e viva tudo isso. Não vai caber. Então não, eu não vou dar conta de tudo - mas vou continuar sonhando e realizando, enquanto eu puder.
Se você se identifica comigo, para acalmar os nossos corações existe uma solução. Ela se chama filtro, e depende inteiramente do quão apurado o seu autoconhecimento está. Quando a vida nos abre um espacinho, um respiro, precisamos de muita sabedoria para saber qual item da lista escolher.
É hora de focar no seu desenvolvimento profissional? Fazer um curso para desenvolver um projeto pessoal? Ter um hobby? Aprender um novo idioma? Se a lista de desejos é sem-fim, a forma como escolhemos qual item dar check precisa ser absolutamente inteligente e alinhada com a nossa alma.
Eu jamais levantaria a bandeira de termos uma vida frenética, mas imagino que você queira ter uma vida significativa. E eu sei que parte disso é não sossegarmos até usar todo nosso potencial, dar vazão aos nossos interesses, experienciar e realizar nossos sonhos. Que são tantos.
Termino esse texto mais em paz comigo. Gosto de ser alguém que tem libido pela vida, embora saiba do alto preço que pago por quase nunca sossegar. Mas prefiro a realização à tranquilidade, o crescimento ao conforto, o movimento ao descanso. Sempre fui assim. Estou sobrecarregada mas não aceitarei que essa fase se estenda por muito mais tempo. E, quando ela passar, voltarei a “me coçar” na cadeira me perguntando: e aí, qual será meu próximo curso? Sonho? Projeto?
Boa semana pra nós :)
Charis
Chá, importante reflexão, mas fiquei pensando aqui… sim, é maravilhoso ter este tesão em querer viver, mas se procuramos preencher toda brecha que surge, algo não estaria em desarmonia? As brechas são o espaço vazio para nos envolvermos com nós mesmos para então podermos sair de novo para nos desenvolver… só se desenvolve quem se envolve… não é pesado olharmos para estes momentos apenas como momentos de zona de conforto? Isso não gera cobrança e nos tira do presente? E ao mesmo tempo que temos projetos futuros que visam justamente a nossa autorrealização, não deveríamos buscar autorrealização, senti-la de verdade também no agora? Bjs .
Você me inspira em suas reflexões Charis!
Bom dia