A constância te leva muito mais longe do que a intensidade.
Tudo o que você começa com tudo... acaba.
Ano novo, vida nova. Quem nunca caiu nessa (auto) promessa? Eu já, várias vezes. Acredite se quiser, eu já fui a pessoa de recomeços em viradas de ano, em aniversários, após uma grande ressaca ou a cada nova segunda-feira. E uma coisa que aprendi a duras penas foi: começar com tudo sempre me deixava sem nada.
A promessa de que TUDO será diferente não cabe em nossa realidade humana.
Se fosse tão fácil mudar, não estaríamos todos nessa jornada.
Isso não significa que não possamos fazer resoluções de ano novo. É verdade que o início de um novo ciclo traz um fôlego de esperança, de renovação, e devemos sim usar isso a nosso favor. Mas a gente precisa aprender a fazer isso de forma inteligente, jogando a favor da nossa biologia. Explico.
Imagine que um dia eu te ligo e falo: oie, cheguei aqui na sua casa, coloca um tênis e vamos dar uma volta? Esse convite pode parecer atrativo e inofensivo. Mas como você acha que vai se sentir se a nossa volta durar 3 horas e eu te fizer andar até ter bolhas nos pés? Como seu cérebro vai interpretar esse evento? Será que, quando eu te ligar no dia seguinte, você vai me atender?
O nosso cérebro foi programado para economizar energia. Tudo o que nos desgasta ou leva até a exaustão acaba sendo interpretado como prejudicial, ou, no mínimo, a ser evitado a qualquer custo.
É isso que acontece quando decidimos que vamos ler meia hora por dia (se até então lemos 0), fazer 1h de exercício diariamente (se ainda somos sedentários), comer todas as refeições perfeitas (se nossa alimentação está uma bagunça) e economizar 50% do nosso salário (se até então nossa vida $ está uma bagunça). Ninguém vai do zero ao cem em um dia, uma semana, nem em um ano. É como um carro manual que, quando ligamos, precisa passar pelas marchas 1, 2, 3, 4 pra daí chegar na marcha 5.
“Mas Charis, eu já tentei várias vezes, e colocar intensidade total é o que faz eu sentir que AGORA VAI.”
E se na nossa caminhada eu tivesse feito você se movimentar e se desafiar, mas deixasse um gostinho de quero mais? Nós teríamos plantado uma sementinha para o dia seguinte. Então aqui está o que você precisa aprender no nosso papo de hoje: começar pra valer não significa começar com tudo.
» Começar pra valer depende dessas 3 coisas:
Motivação: tenha muita clareza dos seus porquês. Por que esse objetivo é importante pra você? Como a resolução dele vai melhorar a sua vida? Sua motivação é o que motiva a sua ação;
Flexibilidade: é aqui que a maioria tropeça. A jornada é muito longa e haverão diversos imprevistos e obstáculos no caminho. Precisamos aprender que tropeço não é fracasso e que, vez ou outra, sairemos do eixo. O importante é saber voltar;
Autofeedback: se dar parabéns, comemorar pequenas e grandes vitórias, reconhecer um dia difícil em que você conseguiu se manter fiel aos seus objetivos. Não existe linha de chegada, mas pequenos avanços todos os dias que precisam ser reconhecidos.
Pense na analogia da vida com a corrida. Estamos aqui todos numa grande e longa maratona, não em uma prova de 100 metros rasos. O corredor de curtas distâncias precisa sim dar tudo o que tem nos poucos segundos de prova que lhe são dispostos, mas nós, participantes da corrida da vida (que quanto mais longa for, mais sortudos somos), precisamos gerenciar nosso fôlego como numa maratona. A gente não precisa vencer a prova no primeiro km e nem dar tudo o que tem nos primeiros passos, isso não seria inteligente.
Como te contei lá em cima, eu já fui a pessoa do: não vou beber nunca mais, ficarei 6 meses sem açúcar, essa semana eu vou 2x por dia na academia e vou terminar todo o curso que parei no meio essa semana. Nunca deu certo.
É claro que outros fatores tiveram um impacto enorme no meu estilo de vida e no meu cuidado com a minha saúde (principalmente o meu trabalho e a minha realização profissional), mas posso afirmar que eu só comecei a ver mudanças duradouras quando parei de viver como se estivesse em uma corrida contra o tempo e comecei a curtir a jornada.
Esse é o poder da constância:
(1 + 1 + 1 + 1 + 1 …) x INFINITO ∞
A gente não precisa ler 3 livros em um mês, perder 3 kgs em uma semana e estudar 3h em um dia. Ninguém tem energia duradoura pra isso. A consistência é uma forma de exercer disciplina e autogentileza ao mesmo tempo - o compromisso de que será pra sempre, recrutando os recursos que a gente têm disponíveis.
Toda vez que vamos com tudo, nosso corpo e nosso cérebro não têm o tempo necessário a se adaptar à nova realidade. É como se levassem um choque. É por isso que na nossa caminhada de 3h com bolhas nos pés você se sente, consciente ou não, machucado/a. Nós sempre reagiremos melhor a pequenas mudanças, contínuas, do que a grandes melhorias de um dia pro outro.
“Se eu desacelerar, vai dar tempo de conquistar tudo?” - provavelmente sim. Porque depois de dominar a marcha 1, você consegue passar pra marcha 2. Hoje eu consigo me comprometer com metas muito mais desafiadoras do que as metas que eu definia pra mim há 5 ou 10 anos. A gente vai pegando o jeito, aprendendo a gostar do caminho e inclusive aprendendo muito sobre nossas forças e fraquezas.
Espero que você possa rever as resolução de ano novo que fez para 2025 com esse olhar. Isso não é autopiedade, é autorresponsabilidade. Definir o factível e intencional para que, de fato, saia do papel e se instale na sua realidade.
Boa semana pra nós :)
Charis
Obrigada pela reflexão. Eu já estava ligando o turbo nesta 3° semana de Janeiro. Deixei de lado minha semana de férias para trabalhar. Sou autônoma e é difícil não se cobrar tanto, principalmente no início do ano.
Manhãs de segunda feira são especiais quando a notificação de reflexões sua chegam! 💡😍